sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Graça de Mayara Magri


Por Marcela Benvegnu
O sobrenome de Mayara, a mais nova estrela da dança brasileira em todos os sentidos, vai além do Magri. O complemento: Venerando da Graça faz jus ao que ela vem fazendo com o público nos palcos do mundo. Aos 16 anos, a adolescente que mora na Comunidade do Mata Machado, no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, se prepara para voar alto: integrar como aluna a Royal Ballet School, em Londres, a partir de setembro de 2011. “Sempre desejei estudar na Royal, por ser uma companhia grande e muito conhecida, e também porque eles me proporcionaram toda a ajuda de custo necessária para a minha sobrevivência no exterior. Isso é maravilhoso. Era tudo que eu precisava até conseguir me sustentar sozinha”, fala Mayara. 

Em Joinville recebendo o prêmio de melhor bailarina |
Divulgação

 A bailarina vai para Londres porque recebeu o primeiro lugar no Prix de Lausanne, na Suíça, além do prêmio de melhor bailarina pelos olhos da plateia, em fevereiro.  O Prix de Lausanne é atualmente o mais importante concurso de dança para jovens e tem como objetivo conceder aos mais talentosos bolsas de estudo nas mais reconhecidas instituições de dança do mundo. No Prix é preciso dançar variações clássicas estipuladas pela organização e aprender coreografias de dança contemporânea durante os dias do concurso. Os alunos também são observados nas aulas pelo júri.
A vaga para Lausanne foi garantida no Festival de Dança de Joinville, em julho de 2010, quando Mayara foi eleita a melhor bailarina do festival. “Em Joinville foi o início de um sonho, dançar o grand pas de deux de Cisne Negro foi maravilhoso. Fui recompensada por todo trabalho e foi extremamente gratificante”. Quando Mayara foi para Joinville já tinha Lausanne como foco. “Fui com esse intuito. Joinville seria a ponte para o Prix de Lausanne”, completa.
E com a vaga garantida, o trabalho entre setembro de 2010 e fevereiro de 2011 foi intenso. “Eu queria muito ir bem, mostrar aquilo que eu já vinha aprendendo, e que o Brasil já conhecia, mas o exterior ainda não. Ter sido reconhecida desta maneira foi uma emoção inexplicável”. Em Lausanne, Mayara dançou a variação do 1º ato de Coppélia (1870), de Arthur Saint-Léon. “É uma variação bem diferente de Cisne Negro. Tive muitos ensaios nas férias, nada de praia, nada de comida liberada. A alimentação teve que ser muito regrada e saudável, mas foi um esforço que valeu muito a pena. A organização do concurso é indescritível e toda a estrutura e o suporte que os bailarinos recebem, perfeitos. O Prix de Lausanne é hoje o maior concurso do mundo em aspectos gerais.”
Na variação de Coppélia, em Lausanne | Divulgação Prix
Mesmo com a bolsa garantida para a Royal Ballet, Mayara embarcou para Nova York, em março, para participar de outro importante concurso, o Youth America Grand Prix, que também premia com bolsas de estudo jovens talentos. Como já era esperado, conquistou a todos. Primeiro lugar novamente. “No YAGP interpretei a variação de Cisne Negro que era a variação proposta desde o início pelos meus professores para ser trabalhada e dançada durante o ano. A variação foi um presente para mim, afinal, que bailarino nunca sonhou em dançar O Lago dos Cisnes? Apesar de nunca ter tido um balé preferido, porque acho que temos que ser versáteis como bailarinos, tenho um carinho por essa peça e realizei parte do meu sonho”, conta. 
Ainda em Lausanne: coreografia contemporânea | Divulgação Prix

OLHAR PARA O MUNDO – Mayara sempre gostou de dançar, mas como tem outras duas irmãs, ficava difícil para os pais sustentarem artisticamente as meninas. Foi por intermédio de uma amiga que Mayara conheceu o projeto social Dançar a Vida, da Escola de Dança Petite Danse. “Quando entrei para a Petite Danse, eu e minhas irmãs tivemos total apoio financeiro do projeto, o que foi um alívio para meus pais, já que não tínhamos condições de pagar”, revela. “Quando comecei, não tinha essa vontade de ser profissional de dança. Fazia aulas porque eu gostava. Essa minha visão profissional chegou quando eu fui para a Cia. Petite Danse e comecei a dançar em festivais do Brasil e do exterior, embora a Nelma Darzi, dona da Petite Danse, sempre tivesse dito para minha mãe que eu seria uma grande bailarina.”
Mayara acredita que tenha se apaixonado por balé por conta dessa mistura entre interpretação e técnica. “Para mim, a carga interpretativa sempre foi o lado mais trabalhoso, pois a técnica nós trabalhamos no dia a dia, em aulas, e a interpretação nem sempre. Por exemplo, interpretei o papel de Giselle (1841), de Jean Coralli e Jules Perrot, ainda muito nova, mas este também foi um trabalho de muito aprendizado, já que aos 14 anos eu teria um personagem tão carregado, emocionalmente falando. Giselle e Odile são personagens completamente diferentes. Ambos muito difíceis e também muito gostosos de fazer. Depois destes papéis que me foram propostos, não consigo viver sem a dança por perto”. 
No pas de deux de Cisne Negro | Divulgação Stars Dance
A bailarina tem consciência de que as privações valem a pena. “Penso que tudo que fiz, todo esforço, todas as vezes que deixei de comer um chocolate, todas as vezes que deixei de sair com meus amigos da escola e perdi meus fins de semana e feriados, nada foi em vão. Acredito que tudo tenha dado certo pela disciplina e pela responsabilidade que tive com aquilo que me propus a fazer desde tão jovem. E eu só tenho a agradecer a todos que me ajudaram e me apoiaram, pois não consegui nada disso sozinha”.
O desafio em Londres é, na verdade, um medo. “O meu maior medo é perder a humildade que me ensinaram tanto, pois acho que se eu esquecer isso será impossível crescer na vida, principalmente no mundo da dança. Quero me dar bem no Royal, e conseguir fazer uma carreira sólida. Sonho em melhorar financeiramente para poder ajudar meus pais no que eles precisarem já que eu fui ajudada por eles e também ajudar o projeto social da Petite Danse, foi ele que me deu a oportunidade de estudar dança gratuitamente. Quero ser feliz fazendo aquilo que eu realmente amo, que é dançar.”

terça-feira, 26 de abril de 2011

Começo

Não foi planejado, mas serviu como incentivo. Começar a Revista de Dança na semana do Dia Internacional da Dança. É um início e esperamos que seja de muitos passos. Um brinde!

naBolsa | Pedro Pupa

Por Marcela Benvegnu

Trocar SP por Miami para dançar = Pedro Pupa | Crédito: Emily Fauci


“São três pares de sapatilhas brancas e bege, meias brancas, sapato de jazz, polaina para os pés, elástico de cintura, malhas preta, duas camisetas de aula, desodorante (na verdade ,são dois desodorantes, um spray e um roll-on). Também tem linha branca, agulha, elástico de sapatilha, elástico para fazer exercício de pés, macacão de aquecimento, calça plástica, suporte, talco para pés, pomada relaxante, ipod e uma agenda.”

Pedro Henrique Pupa, 17, é aluno da Miami City Ballet School, em Miami, nos Estados Unidos. Nasceu em São Paulo, sonha em ser bailarino profissional e um dia dançar um balé de George Balanchine.

Instante da dança II


Por Flávia Fontes Oliveira

Arnaldo Torres
Arnaldo J.G. Torres conviveu com a dança e a fotografia desde a adolescência. Aos 12 anos, ganhou a primeira câmera do pai. Aos 15, descobriu a dança. Dançou durante 10 anos com o Grupo de Danças Folclóricas da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), apresentando-se no Brasil e em algumas cidades da Europa e da América Latina.
Em 1980, voltou a se dedicar a fotografias, montou estúdio em João Pessoa, fez registros importantes da cena nordestina. Desde 1996 está em São Paulo, onde já trabalhou com diversas companhias e artistas da dança.

Para esta entrevista, ele selecionou duas fotos importantes: a primeira vez que fotografou o Ballet Stagium, em 1993, e Conjunção, de 2005, com Ivonice Satie e Luis Arrieta, feitas do palco, durante o espetáculo, ouvindo a respiração dos artistas. A seguir ele conta um pouco de seu olhar sobre a dança. 

Conjunção com Luis Arrieta e Ivonice Satie, sentindo
a respiração dos artistas
O que é importante olhar quando se fotografa dança?
Arnaldo J.G Torres: Eu procuro o olhar do coreógrafo e me coloco na posição de retratar sua obra pelo ponto de vista do qual foi criada, por isso sempre me posiciono no centro do palco. Procuro captar o ápice dos movimentos e o timing para isto tem que ser preciso, não pode ser nem antes nem depois, tem que ser no ápice!
Penso também no enquadramento, tendo o cuidado de não deixar de fora o tablado do palco para dar a noção exata do bailarino em relação ao espaço. Não que isso seja uma regra, em alguns momentos, preciso dar ênfase às expressões dos bailarinos, mas nos saltos preciso do tablado como referência da altura que o bailarino alcançou. Depois, é o sentimento que move a câmera e passo a acompanhar os movimentos que mais me atraem, como se minha câmera dançasse junto com os bailarinos através dos movimentos da minha mão.
   
Para você, qual o diálogo entre a fotografia e a dança?

A primeira foto do Ballet Stagium, em Recife, em 1993
com a coreografia Luminescência, de Décio Otero
 Arnaldo J.G. Torres: Penso que o diálogo fundamental é com a importância de construir a própria historia da dança. Já ouvi de inúmeros profissionais da dança reclamações por não guardarem registros de seus trabalhos. Por outro lado, para mim, esta foi uma forma de continuar próximo à dança quando desci do palco.
Me encanta também o poder da fotografia de eternizar o movimento na dança, que é único e fugaz. Além disso, a imagem registra e congela o movimento, oferecendo uma contribuição no sentido de correção do trabalho dos bailarinos, pois, apesar de o espelho mostrar o movimento, muitas vezes o bailarino só observa que sua mão esta torta ou algo parecido na fotografia.

Como fotógrafo, o que te toca na dança?
Arnaldo J.G. Torres: Eu fui encantado pela dança desde a mais tenra idade. Quando criança ainda, meus pais me levavam para o carnaval e aqueles movimentos dos “cabloquinhos”, dos maracatus, do frevo, das danças populares enfim, já mexiam comigo de uma forma que não sei explicar através de palavras.
Já na adolescência entrei para o grupo de danças do Liceu paraibano e viajei o mundo dançando. Permaneci durante muitos anos neste grupo, e depois que a maioria dos seus elementos entrou para a UFPB, a universidade criou o Grupo de Danças da Universidade Federal da Paraíba que existe até hoje. A dança continua me emocionando, é minha maior paixão.

A dança da moda

Por Flávia Fontes Oliveira

A conversa vem de longa data e volta e meia os laços entre dança e moda se estreitam. Na dança ocidental, desde as cortes da Renascença, quando a dança social e a dança cênica dividiam o mesmo espaço e a roupa do cotidiano era também a roupa dos “espetáculos”, as duas manifestações estão ligadas.

Mas foi logo no início do século XX, que a dança e a moda afinaram o diálogo. De um lado, estilistas passaram a levar seu conhecimento para a cena, como Coco Chanel (1883-1971), uma das primeiras a desenhar para os Balés Russos de Sergei Diaghilev (1872-1929). De outro, a dança também trouxe contribuições para coleções de roupas e de acessórios.


Sapatilha com "ponta" e bolsa da New Order
Hoje, a velocidade da moda nem sempre nos permite observar com cuidado tantas referências. Mas no Brasil, neste inverno 2011, algumas coleções revisitaram o tema e surpreenderam com peças de inspiração no mundo da dança. Dois exemplos dessas releituras, a Maria Bonita Extra, mergulhada no universo do cotidiano da dança, com peças que lembram collants, meias, calças e outras referências distantes do palco; e a New Order, com seus sapatos e outros acessórios (como a bolsa em destaque) combinam a delicadeza e a força das sapatilhas de ponta e dos movimentos da dança.

Coleção Maria Bonita Extra: os bastidores da dança.
Foto: divulgação












Por falar em moda e história

Marie Taglioni e o primeiro tutu |
Reprodução
Marie Taglioni (1804-1884) talvez não seja a mais conhecida das bailarinas do período romântico da dança, mas ela carrega um feito, ou melhor, duas referências na história desta arte: ela foi a primeira a dançar um balé inteiro nas pontas e também estreou o tutu (romântico), figurino que para ocuparia o imaginário popular da e sobre a dança, criado por Eugène Lami (1800-1890) para La Sylphide (1832), de Fillipo Taglioni, pai de Marie Taglioni.

Essa versão do tutu, feito com anáguas de musselina, para dar volume a uma saia de crepe, reflete a evolução do figurino na dança e o torna determinante na cena. O tutu ajudou a criar a dimensão da bailarina romântica ao lado da técnica clássica, que evoluiu sensivelmente no início do século XIX, encontrando a expressividade, a poesia do corpo e a fluidez dos gestos, por exemplo. No palco, a bailarina representa um ser irreal, que quase não toca o chão, inspirada pela leveza.

Marie Taglioni nasceu em Estocolmo, em 1804, foi aluna de Coulon, especialista em pontas, mas seu grande mestre e coreógrafo foi seu pai, Filippo Taglioni, que fez suas variações e alguns balés inteiros para sua interpretação. Debutou em Viena, em 1822, entrou para a Ópera de Paris, em 1927, onde se consagrou com Ballet des nonnes e La Sylphide. Morreu em Marselha, em 1884.

Programe-se

Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Dança, precisamente dia 29 de abril, inauguramos nossa Revista de Dança. Iniciamos também nossa agenda, com dicas e programações. Aproveitem.

Para começar a semana, cinco eventos de dança pelo Brasil.
1 – BEM CASADOS (São Paulo). O programa do Teatro de Dança traz sempre duas companhias para dividir a noite. Nesta semana, Paula Pi, de Campinas, apresenta Quando Ando em Pedaços ou Notas Sobre Minha Mãe e Marcos Abrances mostra D Equilíbrio...
Dias 28 e 29, 21h | Dia 30, 20h | Dia 1º, 18h
TD - Teatro de Dança Subsolo
Av. Ipiranga, 344, subsolo - República - Centro. Telefone: 2189-2555.
Ingresso: R$ 4 (estudantes: R$ 2).

2 - VISÕES URBANAS (São Paulo). Em sua quarta edição, o evento, que tem a dança como norte, acontece em paisagens urbanas da cidade de São Paulo. Neste ano, há artistas e pesquisadores do Brasil, Uruguai, EUA, Turquia, Alemanha, Bélgica e Itália. A programação é gratuita e acontece de 27 a 30 de abril.
Dia 27
Exposição Fotográfica - Caixa Cultural Sé (Praça da Sé, 111 - metrô Sé) de 27 a 30 de abril, das 9h às 21h. São Paulo - cidade que dança. Fotos: Fabio Pazzini
Espetáculos - Parque Mario Covas (Av. Paulista, 1853 - metrô Consolação) | 11h30 - Dolap - Cia. Taldans (Turquia) | 12h - Siredia, Proyecto LaCasa (Uruguai) | 12h45 - Spare Tire, Maren Strack (Alemanha) | 13h - Bem me Quer - Estudo I "Duo"- Coletivo Flores (Macaé - RJ) | 13h30 - Croatã - Cia. Artesãos do Corpo e alunos do Levante (São Paulo - SP)
Workshop - Estúdio Artesãos do Corpo (Rua Martim Francisco, 661 - metrô Santa Cecília), das 19h às 21h30 - Workshop: “Hip-Hop - Experiências do Corpo”, com Tais Vieira inscrições por e-mail: levantecentro@hotmail.com
Dia 28
Palestra - Teatro Eva Herz - Livraria Cultura (Av. Paulista, 2073 - metrô Consolação) Das 10h30 às 12h30 - Ma - O espaço intervalar | por Michiko Okano
Espetáculos - Parque Mario Covas (Av. Paulista, 1853 - metrô Consolação) | 17h - Despacho - experimento coletivo, Cia. Ltda/Jorge Schutze (Maceió-AL) e artistas do Instituto NUA (São Paulo - SP) | 17h30 - Spare Tire, Maren Strack (Alemanha) | 18h - Happy Hour, Cia. Adarte (Itália) | 19h - Thresholds Crossed, Maida Withers Dance Company Construction (EUA)
Dia 29
Palestra - Teatro Eva Herz - Livraria Cultura (Av. Paulista, 2073 - metrô Consolação), das 10h30 às 12h30 | Internet - Outro espaço para a dança | por Ana Francisca Ponzio e Gabriela Baptista.
Espetáculos - Casa das Rosas - Jardim (Av. Paulista, 37 - metrô Paraíso ou Brigadeiro) | 16h - Tangos, Margareth Kardosh e Victor Costa (São Paulo-SP) | 16h15 – Casulos,...AVOA! - Núcleo Artístico (São Paulo - SP) | 17h - Spare Tire - Maren Strack (Alemanha) | 17h20 - Olhar Urbano, Cia. Artesãos do Corpo (São Paulo - SP) | 18h30 - Thresholds Corsed, Maida Withers Dance Company Construction (EUA)
Mostra de vídeodança - Casa das Rosas - Varanda (Av. Paulista, 37 - metrô Paraíso ou Brigadeiro) 19h - II VideoDança SP
Dia 30
Espetáculos - Parque Trianon (Av. Paulista, 1700 - metrô Trianon Masp) | 11h - Xtra Large, Cie Irene K (Bélgica) | 11h30 – Cadência, Cia. Artesãos do Corpo (São Paulo)

 3 – NOS PASSOS DA DANÇA (Rio de Janeiro). Espetáculo traz os jovens bailarinos da Cia Jovem Dançar a Vida, ligada à ONG Dançar a Vida (a mesma que revelou ao mundo Mayara Magri). A ONG tem os cuidados da escola Petite Danse, da Tijuca, Zona Norte do Rio, que dá chances a jovens de comunidades do entorno para frequentar aulas de balé. O espetáculo tem seis blocos e mostra a evolução da dança em diferentes épocas, com suas tradições e curiosidades.
Serviço:
Dia 26, 10h e 15h. Teatro Odylo Costa Filho. Rua São Francisco Xavie, 524. Maracanã
Dia 27, 17h. Estação Metrô Carioca. Centro
Dia 28, 14h. SESC Madureira. Rua Eubanc da Camara, 90. Madureira
Dia 29, 14h30. Central do Brasil. Presidente Vargas. Centro

4 – MOSTRA DE DANÇA KLAUSS VIANNA (Belo Horizonte). De 28 de abril a 4 de maio, está de volta à cidade a Mostra de Dança com espetáculos, performances, mostras de vídeo dança e oficinas, retomando iniciativa que nasceu em 1995 para apresentar um panorama das produções em dança realizadas no país. O evento acontece em seis espaços: Palácio das Artes, Teatro do Corpo, Teatro Marília, Meia Ponta Espaço Cultural Ambiente, CentroeQuatro e Galpão da Mimulus.
Serviço:
Dia 28
19h30 | Cia. de Dança Palácio das Artes – Contempl-Ações
Coletivo Black Horizonte – Blacktronic
Cia. Mário Nascimento - Escapada
Dia 29
10h | Oficina Flávia Petri – Gyrotonic / Pilates
10h | Videodança CineDançaClube - com Marcelo Castilho Avellar
14h | Videodança Mostra Dança em Foco
17h | Grupo de Dança 1º Ato – Quebra-Cabeça
17h45 | Grupo Aruanda
18h30 | Meninas de Sinhá e Elemento X – Preformance
19h30 | Coletivo Movasse – Imagens Deslocadas
Camaleão grupo de Dança – Siga reto. Sempre em linha reta. E vai com Deus.
21h30 | Movimento Black Soul - Happening       
Dia 30
10h | Oficina Renata Mara - Dance Hability
10h30 | Oficina Fátima Carretero – Clássico espanhol – Danza Bolera
11h | Oficina Sônia Mota – Arte da Presença
19h | Marise Dinis – Dos meus olhos saem rosas
20h | 1º Ato Centro de Dança - Drumond / Namoradeiras
Sala B Dança Experimental – Batuques / Contraponto
Dança Jovem - Shopping
Dia 01
18h | Mimulus Cia. de Dança convida John Lennon da Silva, Lina Lapertosa e Lair Assis
19h | Mônica Tavares e Rubens Kurin - Entre
20h | Marise Dinis – Dos meus olhos saem rosas
20h | Rosa Antuña – Mulher selvagem | Uátila Coutinho - Traço
Serviço
Evento: Mostra de Dança Klauss Vianna
Data: 28 de abril a 04 de maio
Informações: (31) 3236-7400

5 – FESTIVAL INTERNACIONAL VIVADANÇA ANO 5(Salvador). Durante todo o mês de abril, a programação do festival incluiu oficinas, shows, palestras, mostras e mais de 30 apresentações. Nesta quinta semana, seis espetáculos mostram a diversidade do evento.
Informações:
Dias 26 e 27 | 10h e 15h
Da Ponta da Língua à Ponta do Pé | Cine-Teatro Solar Boa Vista
26 e 27 de abril | 20h
Papayanoquieroserpapaya e Paso a Peso | Teatro Vila Velha
Dias 28, 29 e 30 | 20h
Fricção | Teatro ICBA Goethe Institut
Dia 29 | 10h e 15h
Dia 30 | 17h
Lúdico | Teatro Vila Velha

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Retrato | Mara Barros

Por Flávia Fontes Oliveira

Mara Barros | Crédito: Divulgação Escola Helly Batista 
Ela ainda é adolescente, 14 anos, e tem responsabilidade de adulto. Mara Barros saiu do interior do Piauí e ganhou notoriedade com a dança pelas mãos de outro jovem, Helly Batista Junior, de apenas 25 anos, diretor artístico da Escola Helly Batista, em Teresina. Foi ele quem a treinou na cidade durante o tempo em que se preparava para saltos maiores. “Desde o primeiro momento em que a vi, notei que ela tinha bastante potencial fisicamente, mas faltava trabalho técnico. Com o tempo, ela foi se mostrando uma bailarina muito talentosa e inteligente, cheia de garra e dedicação”, diz o diretor. No último Youth America Grand Prix, em Nova York, no mês março, ela ganhou a bolsa para estudar no Kirov Academy of Ballet of Washington. Seu sonho? Dançar os grandes papéis do balé clássico. Vamos torcer.

terça-feira, 19 de abril de 2011

naBolsa | Letícia Maluf

Por Marcela Benvegnu


Dança e Moda = Letícia | Crédito: Mônica Pires
“Sapato de sapateado, sapatilha (por causa do jazz), chave de fenda, band aid, ipod, escova de cabelo, elásticos, grampo, celular, minha agenda, chave do carro, máquina fotográfica, carteira, garrafa de água, desodorante e claro que uma bolsinha com maquiagem básica, pó de rosto básico, rímel, blush, batom e um creme para as mãos.”

Letícia Maluf Pires, 18, faz sapateado há 12 anos no Studio de Dança Christiane Matallo, em Campinas. Atualmente também faz jazz e é estudante do primeiro ano de moda da Esamc (Campinas). Para ela dança e a moda são muito próximas, pois “nascem a partir da forma do corpo”.

Reportagem | O instante da dança I

Por Flávia Fontes Oliveira

Apenas um clique e o movimento eternizado. As fotos nos fazem sonhar com a dança. Entre o olhar e a rapidez do que se passa na cena, os fotógrafos nos ajudam a delinear a dança e a sua história.
Convidamos alguns fotógrafos, craques no manejo da câmera, a nos responder como é olhar a dança através das lentes. Também nos enviaram fotos que os tocam de alguma maneira. Durante a semana, um a um, eles estão na cena.  Esperamos que seja uma longa série.
Para começar, Sílvia Machado.


Bailarina do Balé Municipal de São Paulo de 1989 a 2009, começou a fotografar em 2003, quando realizou a primeira exposição no Teatro Municipal de São Paulo. Não parou mais, a cada temporada, procurava mostrar os registros ao público. Suas fotos estão carregadas da mesma emoção de estar no palco. Já fotografou grandes coreógrafos internacionais, como Ohad Naharin, Angelin Preljocaj, Itzik Galili, entre outros. “E os nossos brasileiros: Jorge Garcia, Henrique Rodovalho, Luis Arrieta, Luis Fernando Bongiovanni, Sandro Borelli, falando apenas de alguns”, como diz.



A bailarina e fotógrafa Sílvia Machado



Em menos de dez anos de trabalho, tem currículo extenso, trabalhou para inúmeros artistas e companhias como São Paulo Companhia de Dança, Cisne Negro Cia de Dança, Quasar, J.Gar.Cia, Cia Sociedade Masculina, Cia Siameses, Cia de Danças de Diadema, Sopro Cia de Dança Instituto Brincante, Antônio Nóbrega (shows e espetáculos de dança), Hermes Dance (Suíça), Grupo 1º Ato (BH), Dança em Pauta 2006 e 2007, Coccoon Dance Company, Sônia Mota e muitos outros.

Também participou de livros, exposições e outros publicações. Esperamos vê-la muito mais.

Cena de Naturalmente, 2009, de Antonio Nóbrega.
Entre os registros favoritos da fotógrafa

Existe emoção ao fotografar um espetáculo?
Sílvia Machado: Para mim, é sempre uma emoção estar nesse universo do artista. Gosto de chegar antes do espetáculo, sentar na plateia e “sentir” o ambiente, a energia dos artistas, sentir o cheiro do palco, do linóleo, andar pelas coxias, ouvir e ver a técnica trabalhando, finalizando os efeitos de luz, equalizando o som, dando os retoques finais. Chego a sentir o mesmo friozinho na barriga que tinha quando era eu a estar na coxia esperando o momento de entrar em cena. E, de certa maneira, sigo até hoje um ritual semelhante ao dos bailarinos no momento que antecede o espetáculo, fico em silêncio por alguns minutos, comungo a roda de concentração, mesmo de longe, batendo três vezes no chão do palco, falando “merda” comigo mesma (risos).

Como bailarina, o que gosta de captar na dança?
Sílvia Machado: A emoção, sempre. Cada gesto de um bailarino vem carregado de sensações e intenções. Apesar dos treinos exaustivos para que o movimento saia perfeito, o que difere um bailarino de outro, na cena, é o artista contido em cada gesto, em cada olhar.
Às vezes, brinco de captar os saltos no ápice várias vezes, mas, mesmo os melhores saltos, são aqueles que vêm carregados de emoção e intenção, que são realizados com a energia perfeita.
Quando olhamos uma fotografia e dizemos “nossa, que linda!!”, em geral, o que nos chama a atenção não é o salto perfeito ou o passo correto. O que torna esta foto diferente é a “maneira” como o artista realizou aquele salto ou aquele gesto, e este momento é o meu momento predileto, aquele em que comungo com o artista. Este momento me preenche a alma. Os momentos mais simples são, na maioria das vezes, os mais bonitos.


Uma de suas fotos mais antigas. Queens,
Balé da Cidade de São Paulo, de Ohad Naharin, 2004


Entrevista | Adeus, China

n Por Marcela Benvegnu
Adeus, China | Capa do livro
Há pouco mais de dois anos, o Jornal de Piracicaba fez uma promoção para seus leitores. Não lembro ao certo como funcionava, mas sei que, se os leitores renovassem sua assinatura, ganhavam um livro da Editora Fundamento. Na época eu era sub-editora do caderno de Cultura e deveria escrever a crítica de um livro da promoção para compor a matéria do lançamento.  Para minha surpresa um dos livros era Adeus, China - O Último Bailarino de Mao, de Li Cunxin, que foi um dos mais bonitos livros biográficos de um bailarino que já li. A crítica publicada na época (junho de 2008) pode ser lida aqui.


Li com o uniforme da escola de Mao
Poucos meses depois, em 8 de janeiro de 2009, quando soube que a história ganharia versão cinematográfica, eu o entrevistei. Hoje faria perguntas completamente diferentes, mas senti uma grande satisfação e alegria quando recebi as respostas. Sua história ainda estava em minha memória e eu queria publicá-las em um momento especial. Esperei o lançamento do filme no Brasil, nunca aconteceu, depois esperei o aniversário do meu blog, o Tudo É Dança, mas, com a correria da vida, a data passou e eu não traduzi a entrevista. Nunca um texto meu demorou tanto tempo para ser publicado, talvez porque a hora certa e especial dele ganhar voz seja realmente esta. Espero que gostem.

Sua história de vida ganhou as páginas de um livro no qual as pessoas conseguem se reconhecer pelas dificuldades em superar desafios. Como foi dividir essas memórias?
Li com a mãe e os irmãos
Cunxin: Um grande amigo, que também é escritor, me encorajou a escrever depois que contei para ele algumas coisas que vivi. Suas palavras eram: “Li, sua história irá inspirar as pessoas, dará conforto e coragem para que todos possam enfrentar os desafios da vida”. E foi por este motivo que escrevi o livro, para inspirar e motivar outros a ter coragem de atingir o melhor que a vida pode lhes dar. Demorei 12 meses para entregar o manuscrito original que tinha mais de 680 mil palavras, e eu o escrevi em inglês. A edição demorou dois anos, mas valeu a pena. Ao lado de dois editores maravilhosos da Penguin Australia publicamos Adeus, China com 160 mil palavras. 

Contar sua história foi um processo doloroso?
Li ensaiando na Escola de Pequim 
Cunxin: Foi um pouco difícil sim viajar na minha própria história para poder escrevê-la. Reviver as minhas experiências, em alguns momentos, foi muito triste, especialmente quando tive que contar a minha infância na China. As memórias de quando passávamos fome, a falta de dinheiro, a exigência dos meus pais, a escola. Apesar disso, jamais imaginei que o livro fosse virar um best-seller tão rapidamente. Tenho orgulho de que a minha história possa inspirar pessoas do mundo todo a acreditar no sonho que lhes parece impossível.


Li em um balé político em 1977
Ser escolhido entre centenas de crianças para ir à escola de dança de Pequim foi a sua chance de poder estudar e se alimentar. A paixão pela dança foi uma fuga e ao mesmo tempo solução.
Cunxin: Como você sabe, a minha paixão pela dança não começou naturalmente. Foi gradual e muito amparada pela admiração que eu tinha pelo meu professor. O desejo de ajudar a minha família, e fazê-los terem orgulho de mim, obrigava-me diariamente a ser melhor do que no dia anterior.  Com o tempo, encontrei a paixão pela dança que foi muito forte e desafiadora. Essa paixão me fez trabalhar arduamente para que eu me tornasse o melhor que eu poderia ser. A dança para mim é como o ar, a água, os nutrientes da vida que são bonitos e essenciais. 


Em A Bela Adormecida
O que te faltava naquele tempo? Você tinha saudade de alguém ou de alguma coisa?
Cunxin: Enquanto eu estava em Pequim, sentia muita falta da minha mãe. Sentia saudade do seu amor e ficava muito preocupado com ela. Eu achava que poderia levar uma comida melhor para ela se estivesse na escola, porém estávamos a muitas milhas de distância. E eu desejava mais do que qualquer coisa que um dia eu teria força e meios para mudar a vida dela para melhor.


O que sentiu quando seus pais saíram da China para irem aos Estados Unidos vê-lo dançar pela primeira vez?
Li com Bárbara Bush
Cunxin: Esse foi o momento mais importante da minha carreira inteira. Eu já tinha feito mais de duas mil performances no mundo todo, dançado nos mais prestigiados teatros na frente de presidentes, primeiros ministros e ganhado bastante dinheiro, mas dançar aquele espetáculo na frente deles foi um momento de pura magia. Eu não sentia o ar. O tempo foi suspenso e eu estava em glória. 




Neste ano (2009) Adeus, China ganhará as telas do cinema.
Li e Mary (sua esposa) em O Quebra Nozes
Cunxin: Confesso que ainda parece um sonho. Como pode ser possível que um garoto pobre, que morava em uma área rural na China, possa ter tido uma vida de sucesso, escrito um best-seller, que se transformou em filme? Parece surreal, mas é real porque tenho as memórias e as dores do meu próprio corpo. Eu já vi o filme e estou muito feliz com o resultado. Os diretores fizeram um ótimo trabalho preservando a integridade da história. O filme se chama Mao’s Last Dancer (O Último Bailarino de Mao).


Como você entende o seu presente hoje?
Com a família em 2009
Cunxin: Eu não tenho uma filosofia de vida, nunca tive, mas tenho alguns princípios como: viver a vida com integridade e honestidade. Acredito que quando a vida é delicada com você, devemos ser delicados com os outros. Devemos encarar as oportunidades como grandes tesouros e aproveitar o melhor delas. Finalmente devemos ter paixão em tudo o que fazemos e, sobretudo, coragem para encarar os desafios. Devemos dançar com paixão, dedicação, determinação, perseverança e sempre trabalhar muito, muito. E nunca podemos desistir quando tudo parece impossível. 


Li na década de 80

 *Todas as fotos deste texto são do acervo pessoal de Li Cuxin