quinta-feira, 7 de julho de 2011

Uma noite de retorno e renovação

Por Flávia Fontes Oliveira
Cena de Nos outros, de Lara Pinheiro.
Fotos: Sylvia Masini
O Balé da Cidade de São Paulo faz seu segundo programa do ano, de hoje, dia 7, a domingo, no retorno à casa da companhia, o Teatro Municipal de São Paulo. São duas estreias, Nos outros, da diretora Lara Pinheiro, e Cidade incerta, do português André Mesquita. Ainda apresenta Divineia (2001), de Jorge Garcia, ex-bailarino do grupo. Com estes espetáculos, o Balé da Cidade continua costurando sua identidade sob o novo comando, uma companhia contemporânea com elenco renovado e trânsito entre coreógrafos de linguagens distintas. Este também é o mês da dança no Teatro Municipal e só isso já vale um brinde para a dança na cidade (ainda apresentam-se na casa São Paulo Companhia de Dança, Cisne Negro Cia de Dança, Companhia Teatro Dança Ivaldo Bertazzo, entre outras).

Lara Pinheiro compôs sua coreografia em colaboração com os dez bailarinos do elenco (Adilson Junior, Jefferson Damasceno, Yasser Díaz, Cleber Fantinatti, Victor Hugo Vila Nova, Marisa Bucoff, Fabiana Fornes, Thaís França, Liliane de Grammont, Jan Alencar ou Wagner Varela) e procura explorar a força e movimentação dos intérpretes. Nos outros trata do acúmulo de informações e experiências despejadas sobre o corpo. “O que aprendemos e coletamos do outro versus o que deixamos como marca na interação com o outro”, diz o programa.

Outra estreia da noite, Cidade incerta toma como ponto de partida o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa (1888-1935). O jovem coreógrafo André Mesquista – nasceu em 1979 – é fundador da TOK’ART – Plataforma de Criação, ao lado de Teresa Alves da Silva. Entre suas peças estão Como é bom tocar-te, A short history of walking, Cinderela, Slow, A Kind Of (esta última para a Cross Connection Ballet Company com artistas do Royal Danish Ballet, Danish Dance Theater e Skanes Dance Theater).

Cidade incerta, de André Mesquita
Mesquita tem se destacado por sua capacidade de reunir linguagens corporais distintas em dramaturgias bem desenhadas. Nesta coreografia para o Balé da Cidade usa o texto de Pessoa para tratar de certas singularidades da vida, como diz o texto de apresentação retirado do livro citado: “Vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo.”

Para completar o programa, a companhia apresenta Divinéia, coreografia dançada por oito homens, de Jorge Garcia. Na peça, cujo nome era usado por presidiários para a sala de revista corporal da Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecido como Carandiru, Garcia mostra o convívio entre estes homens, em uma coreografia que explora a força masculina. (Selecionei uma parte no vídeo abaixo)

É um elenco de grande capacidade e, só por eles, já valeria ver o espetáculo. E a direção tem sugerido um caminho rico para estes bailarinos.


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