quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sem perder chances


Por Flávia Fontes Oliveira
Paula Penachio em Tchaikovsky pas de deux com Marcelo Gomes
Foto: Willian Aguiar| divulgação 

Paula Penachio não vem de um conto de fadas do balé clássico. Seu físico não é o ideal para a técnica. Aprendeu a superar estas e outras questões apostando em sua musicalidade e interpretação. Aos 25 anos, não perde chances na vida, no caso dela, na dança.

À moda do que declarou Márcia Haydée certa vez, o medo não a paralisa nos momentos decisivos. Se é preciso dar piruetas, ela dá. Se a sequência é rápida, ela finaliza aproveitando a música. Ela resolve e, acima de tudo, dança.

Ao lado de Ed Louzard em Legend (1972), de John Cranko.
Foto: Willian Aguiar
Não por acaso foi a escolhida para ser partner de Marcelo Gomes, em Tchaikovsky pas de deux (1960), de George Balanchine, convidado especial nas apresentações da São Paulo Companhia de Dança, no Teatro Alfa, nos dias 26 e 27, próxima sexta e sábado. Ela integra a São Paulo desde 2008, ano de sua fundação. “É muito fácil dançar com a Paula, ela faz tudo”, diz Marcelo Gomes. “Ela tem uma coisa muito legal que é conectar os passos e dançar”, completa.

Uma das diretoras da Companhia, Inês Bogéa, diz que uma das características da bailarina é usar toda a frase musical. Paula concorda. “Eu gosto de usar a frase até o fim porque, se não, corta o movimento”, diz.

Sobre o novo partner, ela brinca: “É muito fácil dançar com ele, eu nem fico cansada”. Ela se refere à percepção dele de não descuidar da parceria. “Eu nem percebo que, às vezes, não estava no eixo.” Eles criaram uma dinâmica para dançar nos poucos dias de ensaio juntos.

Na sua preparação para este balé, ela conta que, sua tendência, é ser suave. Procurou, nas suas palavras, ser “mais seca e dinâmica para ter mais ataque”.

Não é seu primeiro papel de destaque, já fez o pas de deux principal de Theme and Variations (1946), também de George Balanchine, e Legend (1972), de John Cranko. Aproveita as chances, sempre é possível contar com ela e usa a inteligência para superar fragilidades. 

Claro que Marcelo Gomes é uma grande estrela. Mas, se for ao Teatro Alfa, fique de olho nela também. É uma grande artista.
Sem derrapar nas difíceis sequências de Theme and Variations, de Balanchine.
Foto: João Caldas | divulgação

sábado, 20 de agosto de 2011

Dança em família


Por Flávia Fontes Oliveira

Guivalde de Almeida | Foto: divulgação
A Especial Academia de Ballet comemora, neste fim de semana, seus 40 anos, com uma apresentação reunindo antigos e novos bailarinos, no Theatro São Pedro (serviço abaixo), em São Paulo. À frente da escola paulistana hoje está Guivalde Almeida, 40, filho de Aracy de Almeida, quem começou toda a história. Ela ensina dança há quase 50 anos e, apesar de hoje ter deixado a escola por conta do filho, não parou e cuida do Studio Aracy de Almeida, na Praia Grande, litoral de São Paulo.

Em São Paulo, depois de a família vender o prédio de três andares no Tatuapé, onde funcionava a Especial, e ter tentando alguns anos se estabelecer no bairro vizinho da Mooca, este ano voltaram ao primeiro bairro. “O público é daqui do bairro”, diz Guivalde.

A mãe influenciou os caminhos do filho que, nas suas palavras, não consegue “nem dizer o que pesou na decisão”. É o único dos três filhos a seguir os passos da mãe, de quem recebeu sua formação. Sua escola ainda recebe estudantes de dança do Brasil inteiro em busca “da boa base” da escola.

Na entrevista a seguir, que faz parte da série de formadores no Brasil, ele nos conta a importância da informação, da preparação do professor e que o conhecimento, transmitido de corpo para corpo, ainda é fundamental na dança.
Alunos em Joinville
Foto: Espetaculum | Alceu Bett

A escola ainda tem alunos de vários lugares?
Tem sim. Aqui tem o metrô que é mais perto (metrô Carrão), é mais fácil de chegar. Mas, hoje, acho que mudou muito. Quando comecei, as pessoas saíam mais para fazer aulas em outras escolas. Agora tem a comodidade de querer fazer balé perto de casa.
Por outro lado, ainda temos aqui na escola gente do Brasil inteiro: Pará, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Bahia, interior de São Paulo, Minas Gerais.

Você é administrador e dá aulas?
Agora eu tenho uma sócia que cuida da parte administrativa. Eu dou aulas.

O que você destaca no papel que a escola vem desempenhando há 40 anos?
A dança, para mim, é muito visual. Eu dou aulas aqui e em outras escolas e sou o mesmo professor. Mas, na escola, sinto que os alunos vêem uns aos outros e, como já passaram excelentes bailarinos por aqui, os mais novos se espelham neles.
Vamos fazer 40 anos e os bailarinos que dançaram conosco estão sempre em contato com a escola e o aluno novo vai criando um patamar de observação, que vai subindo. Eu e minha equipe colocamos uma grande carga de responsabilidade nos alunos que não é todo mundo que agüenta. Mas tentamos mostrar aos alunos que é feito um trabalho muito sério.
Eu costumo falar, quando pais vêm me perguntar, que aqui é uma escola, não damos talento a ninguém, trabalhamos com vários corpos, várias cabeças, formas de pensar. O que podemos dar é formação e o aluno vai ter uma boa base para que ele, se quiser, um dia abrir uma escola ou ser um ensaiador ou atuar em outras áreas porque realmente oferecemos um trabalho de base forte.
Neste trabalho de base oferecido aqui claro que surgiram pessoas extremamente talentosas, que estão dançando por aí. O importante é ter essa responsabilidade, fazer o melhor, não fazer por dinheiro (claro que precisamos sobreviver), mas tem de buscar qualidade, não adianta.

Na sua opinião, ainda existe um determinado tipo físico para a dança?
Quando o balé clássico foi criado, era totalmente voltado a determinado tipo de físico, para determinadas pessoas. A escola de balé foi criada para o rei e fazia balé quem o rei deixasse. Quando surgiram as primeiras escolas pagas, aconteceu uma mudança de mentalidade. As escolas de metodologia, elas foram baseadas em determinados físicos: pessoa precisava ter en dehors, bacia aberta, visualmente com pernas longas, curvatura do pé acentuada, tanto homem quanto mulher, para conseguir uma linha bonita. O mundo foi mudando e as pessoas que não tinham nada disso começaram a fazer balé. O próprio ser humano foi achando um caminho diferente para o balé. Fora do Brasil, nessas grandes escolas, Cuba, Ópera de Paris, Rússia, eles têm o hábito de trabalhar com este determinado físico. Eu acho que o professor brasileiro sai na frente porque precisa trabalhar com vários tipos de corpo. Por exemplo, se eu trago um professor da Ópera de Paris para preparar alguns alunos meus, ele terá dificuldades. Como trabalhar uma pessoa que não é en dehors, que não tem perna alta?

Como é ser professor hoje?
Para mim, hoje é inaceitável um professor não buscar informação. Se a pessoa não aprende balé direito, ela pode ter sérios problemas físicos. Antigamente você até conseguia enganar o seu aluno, hoje não dá. Claro que sempre vou fazer o que eu acredito que seja o melhor. Eu sou professor, é o meu trabalho. Mas eu sinto na aula que os alunos me cobram, pelo menos aqui na escola. Eles fazem três aulas por dia, clássico, contemporâneo, pas de deux, ensaiam, tomam bronca o dia inteiro. Se você está na sala de aula, eles estão exigindo, exigindo. O professor tem que estar ligado em tudo, tem que estar 100% com seu trabalho.

Aluna da Especial | Foto: divulgação
Com tanta informação disponível, o que o professor ensina?
O balé não é fazer, mas como fazer. Eu não fui bailarino profissional na minha carreira, estudei balé, mas eu achava e minha mãe também que não tinha talento para seguir carreira. Eu me especializei em dar aula.
Eu faço montagens de balé hoje e, se eu não tivesse vivido na pele, ouvido o ensaiador falar, visto pessoas fazerem do meu lado, eu não teria capacidade de fazer.  O importante é saber o que você está dançando, qual a história que está dançando, o que você está querendo me dizer. Porque o balé clássico não é uma arte só física. Um bom bailarino transcende o que ele faz.
Se o coreógrafo ou o professor não passar ao aluno o que tem a dizer ou o que quer dizer com isso, vai ser uma coisa chata. Se ele não sabe o que está fazendo com aquilo, não é natural.
Por exemplo, Giselle tem uma história. Não adianta, a bailarina fazer sautée na ponta, fazer um penché lindo e não expressar nada. Se você sentar uma hora e meia em um teatro para assistir a Giselle e os bailarinos não saberem o que estão fazendo ali, é muito chato.
Com tanta informação, muitos bailarinos já sabem as coreografias, mas ter informação é uma coisa e como a pessoa usa isso para ser um bailarino, é outra. Todos precisam de uma direção para orientar a carreira.
Antigamente, por exemplo, muito se falava em Margot Fontain, mas poucos a tinham visto dançar, as grandes estrelas eram pessoas muito distantes da nossa realidade. Hoje todos sabem quem é Makarova, Para mim, existe um lado ruim, as pessoas acabam banalizando a informação.

E o papel do professor?
Nós temos um papel muito difícil, o professor vende um sonho. Como posso falar para o aluno: entra no balé que você vai ser bailarino(a)? As pessoas nem imaginam como é nosso mundo.
Tem criança que, quando é pequena, é uma graça, de repente, ela vai ficando grande, vai ficando feia, não sobe na ponta mais. E tem criança que você não dá nada e vai se desenvolvendo de uma forma linda.
Para mim, a dança está 90% na cabeça. Claro que você tem que ter uma mínima proporção física para dançar, a mínima estética para entrar em um palco. Mas a cabeça muda até o seu corpo porque a pessoa trabalha de uma forma que sempre vai saber mostrar o que tem de bonito.
Às vezes a pessoa tem um físico lindo, tudo lindo, mas a cabeça não funciona e ela nunca vence. Claro que o físico é importante, mas o bailarino de cabeça boa chega longe, tem mais resultados do que outros dentro de uma companhia. O professor, diretor coreógrafo sempre vai preferir trabalhar com alguém que dê retorno a ele.

O que você gosta de uma sala de aula?
Eu gosto de trabalhar com gente que está interessada em aprender. Mas o que gosto de trabalhar em sala de aula é a parte de cima do corpo, o tronco. Acho que o bailarino tem que ter braços lindos. Eu valorizo muito o aluno que sabe se movimentar, que usa a lateralidade do corpo, que usa os braços de forma bonita, não faz apenas os passos, tripla pirueta, grandes saltos. É importante porque a técnica um dia falha, mas, se você é um bailarino bem preparado na forma de dançar, na forma de se movimentar no espaço, você sempre vai dançar bem.

O que te emociona?
O que eu queria era um dia sentar em teatro e não saber nada de dança, queria só sentir o que as pessoas sentem, elas não ficam vendo se o pé está “solto”, se não está rodando. Quando consigo me sentar e me desvencilhar de tudo que eu fico olhando, o balé em cena me emociona. Também me emociona bailarino que dança com a alma.   

E na sala de aula, o que te emociona?
Quando você consegue atingir seu objetivo. O trabalho de dança traz resultado a longo prazo. Para a geração de hoje, tudo é muito fácil: quando a escola pede um trabalho, o aluno entra na internet e está praticamente pronto. Mas na arte, em geral, tudo é a longo prazo. Se alguém quer ser um bom pianista, não dá para fazer oito anos de aula e achar que é bom pianista. Um problema aqui na Escola, e acho que mundial, é que as pessoas acham que fizeram um ano de balé e já sabem. O professor olha para a pessoa e sabe que ela não está nem engatinhando no balé. Por isso, o que me emociona na sala de aula é que depois de muito trabalho, você vê resultado.
Aqui na escola temos pré-profissionais, ainda não temos profissionais, e é muito legal trabalhar com essa faixa porque você vê a mudança deles. , é muito bom, compensador.

Qual a preparação do bailarino na escola?
Depende do nível. Os níveis mais avançados, depois do sexto ano, fazem aulas diárias. O avançado tem duas aulas de balé por dia, fazem aulas de contemporâneo duas vezes por semana, aula de ponta uma vez por semana, adágio, pas de deux e aula de variação clássica (repertório). É um trabalho grande, de muita dedicação, são pelo menos 4 horas por dia.
  
Você dá aulas para todos os níveis?
Por incrível que pareça, eu acho muito difícil ensinar o passo. Têm pessoas especializadas para isso. Se em uma aula você faz um assemblé, uma criança de nove anos vai te copiar. Eu mostro e a criança copia, mas o professor para esta idade tem que ser especializado em ensinar, como faz, empurra o pé no chão, tem exercícios preparatórios para você fazer determinados exercícios. Para dar aula para crianças, você precisa ser especializado nisso. Isso é muito importante porque o bailarino não chega no nível adiantado cheio de vício, porque o bailarino com vício é pior do eu o que não sabe nada.

Como você foi parar na dança?
Pela família. Eu sou o único dos três filhos que seguiu a carreira. Desde que me conheço por gente, estou em uma sala de aula. Não sei nem falar o que pesou na minha decisão. Sempre acompanhei minha mãe. Eu me lembro que, com nove anos, via todos os balés que passavam pela cidade.
Comecei a fazer aula com mais ou menos 10 anos. Não segui carreira de bailarino porque para os padrões atuais, eu era baixo e ia encontrar muitas dificuldades. Minha mãe me desencorajou, não sei se foi bom ou ruim. Mas logo comecei a gostar de corrigir, eu sempre gostei de estudar. Minha vida é balé, é dança, o tempo todo é livro, DVD. Se estou escutando música, estou pensando em balé, pensando em espetáculo, produção.
Remontagens | Foto: divulgação

Vocês se dão bem em sala de aula?
Ela sempre foi muito exigente e acho que estou mais bravo agora. Ela é muito humana. Tem coisas que ela entende e eu não quero entender ainda (risos). Mas somos mãe e filho. Em sala de aula, eu falo mãe. “Oh, mãe” (risos).

Aqui você segue algum método?
O método que eu dou aprendi com minha mãe. O método que minha mãe aprendeu é uma junção métodos, entre eles, Cechetti (italiano) e Vaganova (russo).
Aqui na escola, vivemos em discussão dos passos. Nossa escola não faz o método Royal, mas preparamos os bailarinos para os exames. Ele tem um lado bom, ele limpa muito o aluno, ele obriga que determinados exercícios sejam muito bem feitos. Eu não concordo com muitas coisas, mas tem este lado.
Temos também muito contato com a escola cubada porque fomos a primeira escola brasileira a fazer intercâmbio. Eu aprendi muito com ela também.

Serviço: Theatro São Pedro - Rua Barra Funda. 171. Dias 20 e 21 de agosto, às 20h30.
Informações: 11 3667-0499

Ingressos: 4003-1212 www.ingressorapido.com.br

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As Bruxas de Eastwick estreia em SP


Por Marcela Benvegnu


Eles prometem inteligência, assim como foi a montagem do musical My Fair Lady no Brasil. Prometem coreografias vibrantes, talvez esse seja o caso da versão de Cats por aqui. Também incluem no pacote músicas boas, sim o recente New York, New York trouxe isso aos palcos. Também prometem um voo das protagonistas sobre a plateia. Uau! Já estamos na Broadway com o musical mais caro da história: O Homem Aranha. Em musicais, novidades são realmente difíceis, porém, a expectativa para a estreia de As Bruxas de Eastwick, no domingo, dia 14, no Teatro Bradesco (Bourbon Shopping), é grande.

Clara Gueiros e Eduardo Galvão: protagonistas (foto: Divulgação)

Finalmente o mercado dos musicais está aquecido no Brasil. Sai um, entra outro, produz outro, faz audição para outro. Vem aí Cabaret (estrelado por Claudia Raia), A Família Addams (no papel de Mortícia, Marisa Orth), Priscilla – A Rainha do Deserto, que ainda está em processo de audição, Hair... Os artistas, cada vez mais múltiplos e versáteis, estão tendo onde e como trabalhar para poder falar que vivem de arte, dança, canto, atuação. Se faz musical (e bons musicais) no Brasil.

As Bruxas de Eastwick, adaptação do filme homônimo (1987), baseado no livro de John Updike (1984), já foi montado na Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, Rússia e República Tcheca. Com letras de John Dempsey, música de Dana P. Rowe e coreografias de Alonso Barros (brasileiro radicado em Viena), a versão brasileira é assinada pelo renomados Cláudio Botelho e Charles Möeller. A dupla, que ganhou livro biográfico -  Os Reis dos Musicais (Tânia Carvalho, Imprensa Oficial) – já esteve à frente de outras importantes montagens de musicais no Brasil - Sweet Charity, A Noviça Rebelde e Avenida Q.

As Bruxas conta a história das amigas Alexandra (Maria Clara Gueiros), Jane (Sabrina Korgut) e Sukie (Renata Ricci). Entediadas e frustradas com a pacata rotina da cidade de Eastwick elas dividem o desejo pelo homem que consideram ideal e vêem suas esperanças renovadas com a chegada à cidade do misterioso Darryl Van Horne (Eduardo Galvão). Extremamente sedutor, ele se envolve com as três e desperta em cada uma a necessidade de liberar os “poderes” que tem dentro de si. O comportamento nada ortodoxo do quarteto escandaliza a cidade. Os poderes e eventos que desencadeiam são cada vez mais sinistros e fora de controle. Quando Alexandra, Jane e Sukie percebem que a influência de Darryl corrompe a todos que com ele tem contato, resolvem usar aquilo que aprenderam (com ele) para exterminá-lo de suas vidas.

Segundo Botelho, “é um espetáculo completamente novo e diferente de qualquer montagem anterior feita pelo mundo”. “Além da direção totalmente nova, 15 cenários de grandes dimensões e 250 figurinos foram criados especialmente para a produção brasileira. Fizemos adaptações no texto e nas músicas. Esta última versão da peça tem canções que não foram usadas nas montagens internacionais” completa.

A crítica sobre o espetáculo deve ser publicada aqui, na Revista de Dança, na semana que vem.

PARA VERAs Bruxas de Eastwick (Teatro Bradesco - Bourbon Shopping São Paulo - Rua Turiassú, 2100, 3º piso, Pompéia).  Estreia dia 14 de agosto até 11 de dezembro. |  Quinta e sexta, 21h. Sábado 17h e 21h e domingo 16h e 21h. |Ingressos custam de R$ 10 a R$ 180  www.ticketsforfun.com.br

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Deus está nos detalhes

Por Flávia Fontes Oliveira
Marcelo Gomes em aula na SPCD.
Foto: Divulgação | SPCD
Em uma só sequência de saltos, ele mostra a que veio. Para a dança, o manége é um do tour de force masculino presente em muitas variações. Grosso modo, são os saltos ao redor do palco que os homens dão. Força, impulso, leveza, flexibilidade, a combinação esperada, quase vulgar (no sentido de comum), mas de difícil equação, por vezes, ímpar.

Marcelo Gomes, bailarino entre os principais do American Ballet Theatre, brasileiro de Manaus, ensaia no Brasil para duas apresentações com a São Paulo Companhia de Dança, no Teatro Alfa, na temporada de 26 a 28 de agosto, o balé de 1960 de George Balanchine, Tchaikovsky pas de deux. Para além da precisão, chama atenção a matemática do corpo, a inteligência específica da dança, o detalhe do braço, um salto mais alto, a suavidade nas realizações difíceis.

Ele também é gentil. Pergunta à parceira, também linda bailarina Paula Penachio (aguardem um perfil), como pode ajudá-la, propõe soluções aos dois.  Ele respondeu três perguntas à Revista de Dança, em primeira mão.
 Com Paloma Herrera em O lago dos cisnes
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Depois ser reconhecido no mundo como grande bailarino e partner, o que te faz vibrar no palco?
Marcelo Gomes: São várias coisas emocionantes para mim no palco. Não só todo trabalho que de ensaios, de suor, de emoções você que vive no estúdio, o tempo que dedica para colocar um balé, uma coreografia no palco até o aplauso e reconhecimento do público. Isto faz com que o artista continue. O aplauso alimenta a alma ainda para mim. Além disso tudo, eu gosto muito de contar uma história, isso para mim ainda me faz querer estar no palco sempre.

Mesmo que a história se repita?
Marcelo Gomes: Agora nunca é a mesma história. Tentamos tirar um pouco daqui, colocar um pouco lá. O que vai me inspirar desta vez que faço O lago dos cisnes ou Tchaikovsky pas de deux? Tentamos ser o mais espontâneo possível.

Qual é seu grande papel?
Marcelo Gomes: Desde pequeno, vejo vídeos de Giselle (1841, coreografia de Jean Coralli e Jules Perrot). Quando fiz o príncipe Albretch, foi um momento especial na minha vida, por ser um papel que sempre quis fazer e, no palco, quando o fiz pela primeira vez, não acreditava. Minha mente saiu do meu corpo e me vi ali sentado. É um papel que gosto muito de fazer e já está diferente da primeira vez que fiz. 

sábado, 6 de agosto de 2011

Telas em movimento: Vila Tarsila com a Cia. Druw


Por Marcela Benvegnu

Vila Tarsila com a Cia. Druw | Crédito: Divulgação
O final de semana de (e na) dança em São Paulo tem opções para todos os gostos e idades. O Grupo Corpo está em cartaz no Teatro Alfa com a estreia de Sem Mim, de Rodrigo Pederneiras, e a Cia. de Dança de Diadema também estreia Paranóia, de Ana Botosso e elenco, no Sesc Vila Mariana. Enquanto isso, o Teatro Vivo recebe a partir de hoje, Vila Tarsila, espetáculo de dança contemporânea infanto-juvenil da Cia Druw, com concepção de Miriam Druwe e Cristiane Paoli Quito.

A coreografia, assinada por Miriam, tem como mote as memórias de infância da pintora Tarsila do Amaral e remonta sua trajetória criativa, desde suas primeiras impressões sobre cores e formas até as origens dos elementos que influenciaram diretamente sua criação artística. A coreografia transporta o espectador ao mundo antropofágico da artista, demonstrando que sua obra nasceu das experiências visuais das inúmeras viagens realizadas e das brincadeiras na fazenda onde vivia em Capivari, interior de São Paulo.

A diretoras buscaram referências em algumas telas da pintora modernista para inspirar os seis bailarinos/intérpretes-criadores e a atriz Luciana Paes. “Depois de Lúdico (espetáculo anterior de dança infanto-juvenil inspirado nas obras do pintor russo Wassily Kandinsky), tivemos a ideia de pesquisar um pintor brasileiro, daí surgiu o nome da Tarsila do Amaral. Não tenho uma fórmula para coreografar para crianças, apenas tenho o desejo de explorar essa junção de linguagens. Adoro o que faço, é uma necessidade, acho que por isso que tem dado certo, pois o impulso é movido pela vontade de se cumprir um caminho. Sei que tenho que criar para crianças, elas me curam, é retorno sincero, energia que flui. É muito instigante”, fala Miriam. 

Segundo Miriam, produzir para crianças é um espaço a mais que se abre na Cia Druw. “Paralelamente ao trabalho de bailarina e coreógrafa, sempre estive envolvida em projetos ligados à criança. Durante 15 anos,  fui voluntária coordenando um projeto de dança em Interlagos. Foi um período muito especial da minha vida” ressalta a coreógrafa, que também tem um projeto para o público adulto . “Sinto que minha pesquisa sobre Van Gogh tem muitos subterrâneos a serem explorados. É sombra e luz o tempo todo em pinceladas alternadas. O elenco está muito envolvido, estudando muito”, diz.
Em Vila Tarsila, os cenários e figurinos são de Marco Lima e a trilha sonora original de Natália Mallo foi inspirada na obra de Villa-Lobos.

Paralelamente às criações, Miriam foi convidada, no ano passado, para dirigir o primeiro Corpo Estável de Dança do Teatro Municipal de Jundiaí. “O contrato é por um ano e faremos uma produção para 18 de dezembro, aniversário de 100 anos do Teatro Polytheama. Este projeto foi idealizado pelo ex-diretor do Teatro Municipal Wagner Nacaratto, que propôs o projeto dos Corpos Estáveis de teatro, dança e orquestra. Um importante acontecimento para a cidade. As inscrições foram feitas por um edital no final de 2010 e foram contratados sete bailarinos e dois estagiários que recebem salário pela prefeitura.”

ELA – Miriam Druwe tem uma trajetória extensa na dança brasileira. Premiada pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como melhor bailarina em 1993, dançou profisionalmente no Balé da Cidade de São Paulo e na Cisne Negro Cia de Dança. Já trabalhou ao lado de grandes ícones como Luis Arrieta, Ana Mondini, Vitor Navarro, Vasco Wellemcamp, Gigi Caciulenou, Ismael Guiser, Sacha Svertlof e outros.

PARA VER – Vila Tarsila, com a Cia. Druw. De hoje a 28 de agosto e dias 3 e 4 de setembro. Sábados, às 16h e domingos, às 15h, no Espaço Cultural Vivo (avenida Dr. Chucri Zaidan, 860 | Morumbi). Entrada gratuita. Mais informações: (11) 7420-1520

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O mar sem fim do Grupo Corpo

Por Flávia Fontes Oliveira
Sem mim, novo trabalho do Grupo Corpo
Fotos: José Luiz Pederneiras
Em Sem mim, o Grupo Corpo renova seu compromisso de um modo de ver e fazer dança. A coreografia é um passo, não uma ruptura declarada, ou, antes, uma onda, para usar a inspiração desta nova criação de Rodrigo Pederneiras, o mar, com cenografia e iluminação de Paulo Pederneiras e figurinos de Freusa Zechmeister, com estreia para amanhã, dia 4, em São Paulo, no Teatro Alfa, com apresentações até 14 de agosto, e depois segue turnê nacional (veja serviço abaixo).

Os tradicionais e belos pas de deux
de Rodrigo Pederneiras
Já tradição nos trabalhos da companhia, a música serviu de guia. Neste caso, a ideia veio das sete canções do Ciclo do Mar de Vigo, de Martín Codax, do século XIII – testamento e sobreviventes da tradição da região na época, o trovadorismo nas chamadas “canções de amigo”. A partir deste conjunto de canções que chegou aos nossos dias, José Miguel Wisnik e o Carlos Núñez, ele também de Vigo, assinam a trilha original, com vozes de Milton Nascimento, Chico Buarque, Mônica Salmaso, Ná Ozzetti, Rita Ribeiro e Jussara Silveira, além do próprio Wisnik.

Nestas cantigas de amigo, Codax fala em nome de jovens apaixonadas que choram a ausência do amor ou celebram o possível regresso do amado. Confidenciam-se e banham-se nas ondas do mar. Desta lírica, Rodrigo Pederneiras trouxe para seus movimentos referências do mar, entre sua calmaria e fúria, no vaivém das ondas, traduzidos, por vezes, em elementos femininos e masculinos.

Desde que imprimiu sua marca, privilegiando um corpo e um movimentar brasileiros – brincando com o balanço dos quadris quase despudoradamente sem rechaçar a finura clássica –, o Grupo não dispersou, com todas as suas implicações. Com isso e por isso, continua ajudando a sustentar a dança brasileira.

É uma grande história e, sem qualquer dúvida do acabamento dos espetáculos, vale a pena assistir ao que o Grupo Corpo tem a dizer.
A coreografia tem trilha de José Miguel Wisnik e Carlos Núñez


Serviço:
São Paulo | Teatro Alfa, de 4 a 7 e 10 e 14 de agosto
Belo Horizonte | Palácio das Artes, de 17 a 21 de agosto
Rio de Janeiro | Theatro Municipal, de 25 a 29 de agosto
Brasília | Teatro Nacional, Sala Villa-Lobos, de 10 a 13 de novembro