quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uátila Coutinho, inquietações da dança

Por Flávia Fontes Oliveira

Em Traço, de Cassilene Abranches |
Foto: Rodrigo Mendes
A inquietação é marca de artistas, mesmo quando estão em projetos grandes. Difícil identificar quando chega, mas ela está ali, pronta para pegar qualquer um de jeito. Uátila Coutinho, 23 anos, hoje bailarino do Grupo Corpo, estreou o solo Traço, de Cassilene Abranches, sua colega de elenco na companhia, em Belo Horizonte, na Mostra Klauss Vianna, há pouco mais de um mês. Pura inquietação. A ideia veio de conversas dos dois na coxia, este espaço mágico entre o palco e o que está fora da cena. “Quando eu cheguei a Belo Horizonte, não dançava muito e também não tinha muito o que fazer na cidade. Sugeri a Cassi montar um solo. Ela já estava empolgada em coreografar porque havia acabado de montar Contracapa (2009), para o Ballet Jovem do Palácio das Artes”. Agora inscreveu a coreografia em alguns festivais para dançar novamente. 

Traço foi surgindo entre um espetáculo e outro do grupo mineiro e Uátila começou a contar, como ponto de partida, sua história e seus gostos. Ele começou a dançar tarde, aos 14 anos, em uma escola da prefeitura de São José do Rio Preto. Não tinha muitos amigos e, como ele mesmo diz, “na falta do que fazer”, acompanhou uma vizinha às aulas.

O tempo revelou seu jeito para as aulas e achou que daria certo a profissão de bailarino. Foi para São Paulo, dançou em telenovelas e musicais. Em 2008, entrou na São Paulo Companhia de Dança, em São Paulo. Um ano mais tarde, passou na audição do Grupo Corpo. Tem dado certo viver da dança, embora, não seja simples. “Ter a dança como profissão é um pouco assustador e incrível ao mesmo tempo. A dança mexe muito com nossa cabeça, nossas emoções e nossa vida. Vivemos buscando, mudamos de cidade, deixamos família e tudo em busca de viver a dança”, diz ele. Hoje dança é profissão e ele ajuda a família quando precisa – a mãe é doméstica e sempre o apoiou, mesmo quando tudo era incerto. Mas ainda é difícil ficar afastado da família.

Todos esses dados serviram para Traço. “Tudo o que conversamos, Cassi foi tirando ideias para buscar a trilha, ideias para movimentos e desenhos coreográficos e o traço pouco a pouco foi nascendo. Demos esse nome por ele contar minha vida, por ser algo marcado.”
Coreografia tem sua história como referência
Foto: Rodrigo Mendes
Quem já viu Uátila Coutinho no palco sabe que o nome da coreografia também diz muito de sua figura, alto, linhas de corpo precisas, movimentos grandes. Traços em movimento. Engraçado como na cena ele cresce, deixa sua personalidade doce de lado e ganha força, expressão e potência. Ainda bem que a inquietação existe.

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