quinta-feira, 19 de maio de 2011

Entre o ABT de Herrera e Carreño: uma companhia jovem

Por Marcela Benvegnu, de Nova York


Paloma Herrera em Dom Quixote
Foto: Mira | © Copyright 2010 Ballet Theatre Foundation
Paloma Herrera entrou para o corpo de baile do American Ballet Theatre (ABT) aos 15 anos. Tornou-se solista aos 17, primeira-bailarina aos 19. Hoje, aos 35, ela sobe ao palco do Metropolitan Opera House, em Nova York, para comemorar 25 anos de carreira no ABT interpretando um dos mais famosos clássicos de repertório de todos os tempos: Dom Quixote, coreografia de Marius Petipa (1818-1910) e música de Ludwig Minkus (1826–1917). A noite de comemoração aconteceu na última terça-feira, 17 de maio.

Herrera dá vida a uma Kitri madura, o que faz determinadas cenas ganharem dramaticidade. Em contraponto, tem um toque de afetação que talvez possa ser relevado pela própria comemoração. A noite era dela e para ela. Dona de uma técnica de extrema qualidade, de linhas de pés e pernas perfeitas, ela abusa das sustentações e brinca com os giros e equilíbrios. Fica simples girar 24 fouetées sem titubear.

Nesta apresentação, José Manuel Carreño interpretou Basílio. Se a festa não fosse para Herrera, com certeza poderia ser para ele. Seus saltos congelavam no ar e suas sequências de 11 piruetas eram tão seguras que em alguns momentos ele ralentava o movimento de propósito. A orquestra regida Ormsby Wilkins o esperou em pausa para não perder o andamento.

Se por um lado Herrera e Carreños se destacam pela maturidade, o atual elenco do ABT (vale lembrar que um dos solistas da companhia é o brasileiro Marcelo Gomes) é jovem em todos os sentidos: idade, técnica e, sobretudo, dramaticidade. O corpo de baile contrasta com os solistas. Falta um pouco de harmonia nesse intervalo entre os grandes e o que vem por aí.

Quem chama atenção é Joseph Phillips, como o chefe do acampamento cigano, e Sarah Lane, como cupido. A variação de Phillips, remontada por Kevin McKenzie, diretor artístico do ABT, mostra toda sua versatilidade, força técnica e cênica. Ele é impecável. E a veloz e precisa Lane faz com que a plateia se arrume na cadeira para poder ver como ela é uma grande bailarina, mesmo tendo baixa estatura.

Impecável também foram os cenários assinados por Santo Loquasto. No terceiro ato, quando acontece o casamento entre Basílio e Kitri, dá vontade de pedir para que os bailarinos fiquem parados para poder olhar cada detalhe da vila retratada. Um exemplo é um tapete pendurado no teto ou mesmo a sujeira do telhado. Os figurinos, também de Loquasto, apesar de apresentarem cores muito vibrantes, tipicamente americanas, são trabalhados cuidadosamente em sua releitura. O vestido das sequidillas, com saia dupla pouco abaixo dos joelhos e levemente brilhante, é uma das mais lindas peças. Para completar, uma de suas mais importantes estrelas: a luz, de Natasha Katz. O desenho na cena era puro movimento. Coreografia de cores e climas que ajudaram – e muito – a plateia entrar na história.

O ABT trouxe ao palco um clássico, com os solistas “clássicos”, mas que precisa tornar homogêneo, ao menos nesta obra, o seu corpo de baile, ou seja, aqueles que fazem com que esses grandes nomes apareçam.
José Manuel Carreño em Dom Quixote
Foto: Roy Round | © Copyright 2010 Ballet Theatre Foundation


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