quarta-feira, 4 de maio de 2011

Viagem ao Paraíso Perdido

Por Flávia Fontes Oliveira
 
Cena de Paraíso Perdido, de Andonis
Foto: divulgação | Jorge Etecheber
A primeira estreia do ano do Balé da Cidade de São Paulo equilibra desafio técnico e artístico na proposta do coreógrafo grego Andonis Foniadakis. Paraíso Perdido teve como ponto de partida as pinturas de Hieronymus Bosch (1450-1516) e será apresentada no Sesc Vila Mariana, entre os dias 5 e 8 de maio, com um elenco de 30 bailarinos.

Foniadakis trabalha com a companhia pela primeira vez e trouxe uma linguagem que exigiu bastante do grupo. “É uma linguagem de movimentos extremamente fluidos, fluxos, que não identifica acentos ou formas”, diz Lara Pinheiro, diretora artística do Balé da Cidade. Ela ainda completa que não há nenhum movimento óbvio e, por isso, as sequências precisam de lapidação o tempo inteiro. É uma criação que exige “qualidade, para além da técnica”, nas suas palavras.

De Bosch, Foniadakis trouxe o despertar de sentidos de suas criações, que usa engenhosa pintura, com ilustrações complexas, de sugestões sensuais, para tratar, em grande parte, de conceitos e moral religiosas. Há sempre abundância de cenas, cores e dualidades em suas obras mais famosas como O Jardim das Delícias Terrenas (1504, aproximadamente).

O coreógrafo trabalhou com a companhia cerca de cinco meses, entre setembro e outubro, em 2010, e este ano de fevereiro a abril. Se de um lado os bailarinos se entregaram ao novo trabalho, para o coreógrafo também é a possibilidade de desenvolver a própria linguagem. Para Lara Pinheiro, essa montagem permitiu essa troca entre os lados e enriqueceu as duas partes.
 
Obra de Bosch O Jardim das Delícias Terrenas 
Com esta estreia, o Balé da Cidade também procura consolidar o trabalho da nova direção, que assumiu ano passado, em meio a crises de corte de verba e troca de gestão (importante lembrar que não é situação singular da dança, outras áreas também passam por mudanças, questionamentos sobre suas funções, cortes de verbas). Lara lembra que todo novo diretor “ajuda a escrever um capítulo da história do Balé da Cidade”; ela e sua equipe começam a imprimir um modo de olhar a dança. Paraíso Perdido, nesse sentido, na opinião da diretora, é muito mais ousado, arrisca mais na linguagem sem deixar de lado o rigor e a excelência do grupo. Em julho, estão previstas duas novas estreias, uma do português João Mesquista e outra da própria diretora.

Serviço: 
Veja em Programe-se 

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