Quem conhece as fotos de João Caldas sabe que elas primam pela delicada combinação entre nitidez e emoção da cena. Ele, que coloca como ponto fundamental de sua carreira o encontro com os artistas da encenação de Clara Crocodilo, em 1981, a partir da trilha de Arrigo Barnabé e direção de Lala Deheinzelin, gosta dos desafios do palco, quando espetáculos se aproximam de várias linguagens, como IRIBIRI (1982), dirigido e concebido por Francisco Medeiros, José Rubens Siqueira e Sônia Mota, para a Cisne Negro Cia de Dança, em suas palavras “uma experiência nova e desafiadora de misturar teatro e dança”.
Trabalhou como fotógrafo no Centro Cultural São Paulo, documentando as áreas de Artes Cênicas e Artes Plásticas, o que lhe garantiu prática de fotografia de palco. Também foi repórter fotográfico do jornal Folha de S.Paulo, de 1985 a 1987, onde passou por todas as editorias.
Há mais de 20 anos, trabalha em seu estúdio, em São Paulo. Fotografa regularmente para alguns artistas e companhias de dança como a São Paulo Companhia de Dança, Célia Gouvea, Marta Soares, entre outros.
Mesmo sem conhecê-lo, muitos já viram suas fotos de dança espalhadas em catágolos, programas e jornais ao longo de mais de 30 anos de trabalho. Dando sequência às entrevistas com estes profissionais que alimentam a cena brasileira, ele conta um pouco sobre seu olhar e a dança.
Cena de Clara Crocodilo, 1981, especial na carreira do fotógrafo |
O que te seduziu para começar a fotografar dança?
Na verdade, o que me seduz é o palco e tudo o que acontece nele. O marco da minha carreira de fotógrafo de palco foi em julho de 1981, na estreia do espetáculo Clara Crocodilo, dirigido por Lala Deheinzelin, que considero um espetáculo completo, pois tinha dança, teatro, música e performance. Conheci e acompanhei o trabalho do Klauss Vianna que fazia a coreografia e toda a preparação corporal do elenco. No Clara Crocodilo fiz parte da equipe e participei do processo de criação e montagem graças ao meu irmão e ator Renato Caldas, que era parte do elenco e me convidou para fotografar a montagem. Participar deste espetáculo marcante mudou minha vida, fiquei “contaminado” pelo palco, pelo teatro e pela dança.
Na dança, o que é preciso captar além do movimento?
Na dança, o que é preciso captar além do movimento?
A emoção e o sentimento ao assistir o espetáculo ao vivo no teatro, esse é um grande desafio da fotografia de dança. É difícil captar o movimento e, na foto de dança, é fundamental que o fotógrafo, além de ter capacidade técnica de fazer um bom registro, ele conheça a dança. É preciso entender a coreografia, escutar a música e ter o mesmo ritmo dos bailarinos. O tempo da foto de dança leva algum tempo para aprender, o fotógrafo também precisa treinar, ensaiar e repetir, repetir, repetir. Conhecer os movimentos, os passos e a própria coreografia ajudam muito, tudo isso aliado ao domínio técnico do equipamento fotográfico e de todos os recursos que ele oferece.
A lente transforma a dança?
A lente transforma a dança?
Prefiro pensar que a fotografia transforma a dança e que o fotógrafo e sua lente recortam a dança em fragmentos que tentam representar o todo do espetáculo. A dança é que transforma o espectador. A energia, a potência dos bailarinos, a delicadeza e a beleza das bailarinas com a música e a luz deixam a alma do espectador leve e admirada.
Outros olhares sobre a dança e a fotografia em Instante da dança I, com Sílvia Machado, e Instante da dança II, com Arnaldo J.G. Torres.
Dirigirdo por Lala Deheinzelin, Clara Crocodilo unia teatro, música, dança e performance |
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